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Já imaginou mapear todo o sistema imunológico humano, conseguindo identificar o risco individual de uma pessoa para cada tipo de doença e o benefício de cada remédio? Esta quase impossível missão é o objetivo do Human Immune Project, que começará a funcionar oficialmente em 2024.
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Com o lema “aproveitar o poder do sistema imunológico para melhorar a saúde de todos”, a iniciativa que quer fazer um upload do sistema imune de todas pessoas e aproveitar o máximo da Inteligência Artificial (IA) na interpretação desses dados espera não deixar ninguém para trás — a promessa é que as descobertas possam beneficiar toda a população do planeta, independente da etnia, da condição social, da idade e do sexo.
O que é Human Immune Project?
No site da iniciativa, os responsáveis pelo projeto afirmam que vão construir “o maior conjunto de dados imunológicos do mundo em nível populacional”. Através da criação de novos modelos de IA, esses dados fornecerão achados capazes de “transformar a saúde global”.
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Para trazer exemplos mais práticos de aplicação das descobertas que serão feitas pelo Human Immune Project, a IA poderá acelerar a pesquisa no campo de desenvolvimento de novos medicamentos e de vacinas. Em outra frente, pode tornar as terapias mais efetivas, já que será possível saber como cada organismo reagirá a uma fórmula.
É provável que, se der certo, também impeça uma nova pandemia, como a covid-19, já que o tempo de desenvolvimento de novas soluções será significativamente reduzido. Esta probabilidade é uma das mais interessantes, já que o aquecimento global está acelerando a disseminação de doenças pelo mundo e pode proporcionar o aparecimento de patógenos ainda desconhecidos.
Desafio: o sistema imunológico
As ideias e os objetivos que movem o Human Immune Project são incríveis, mas há um grande desafio: o próprio sistema imunológico humano. Hoje, a ciência não compreende o seu funcionamento total e, em muitas vezes, o sistema imune de um indivíduo age de maneira bastante diferente ao de outra pessoa, sem uma aparente explicação lógica. No caso da covid-19 mesmo, inúmeras pessoas tiveram casos leves ou assintomáticos, enquanto outras precisaram ser internadas.
Isso acontece porque diferentes fatores impactam no sistema imunológico de um indivíduo, como idade, sexo, etnia e até a origem socioecônomica — não é que quem tem mais dinheiro tem uma imunidade melhor, mas essas pessoas podem ter dietas melhores ou apenas acesso ao saneamento básico, o que afeta diretamente a saúde.
Para aumentar a complexidade, ainda vale dizer que a imunidade de uma pessoa é impactada também pelo genoma, epigenoma, transcriptoma, proteoma e microbioma. É um complexo sistema para cada indivíduo, composto por trilhões de pontos de dados.
Se a ideia é analisar todas essas possibilidades para a espécie humana, será necessário recrutar um número enorme de pessoas, com diferentes trajetórias, e analisar esses dados com a ajuda da IA. Até o momento, os responsáveis pelo projeto não estimam quantos indivíduos serão necessários para que a tecnologia comece a funcionar de forma adequada.
Os primeiros passos da pesquisa global
Para os primeiros cinco anos do Human Immune Project, entre 2024 e 2029, o foco será começar a construção do conjunto de dados imunológicos, representando a diversidade dos seres humanos e as mais variadas respostas imunológicas, o que servirá de base para o modelo de IA.
Neste período, são propostas três missões iniciais:
1. Coleta de dados em locais pioneiros
Para dar start no processo, serão definidos os sete primeiros locais para a coleta de amostras na África, Austrália, Leste Asiático, Europa, Oriente Médio, América do Norte e América do Sul — os pontos exatos ainda não foram divulgados.
No total, 500 pessoas serão recrutadas. Num período de três meses, estes indivíduos fornecerão duas amostras de sangue e passarão por um teste que analisará milhares de parâmetros imunológicos, como anticorpos, modificações epigenéticas e metabólitos.
Alguns selecionados fornecerão amostras de tecidos para biópsia. Em outra frente, outro grupo de participantes receberá vacinas de rotina, como a vacina anual da gripe (influenza). Passado este primeiro momento, essas 500 pessoas continuarão a ser acompanhadas periodicamente por três anos.
2. Estabelecer novos focos de pesquisa
Após a coleta de amostras nos locais pioneiros, a meta dos pesquisadores será refinar os protocolos, entendendo quais são as prioridades. Com isso, o projeto se expandirá para mais 70 a 100 locais do globo.
3. Criação de kits de análise
Para acelerar a coleta de dados e reduzir os custos do processo, os cientistas buscam desenvolver um kit específico de monitoramento imunológico, contendo os exames necessários para ampliar a base de dados da iniciativa.
Quem financia o projeto?
Por trás da iniciativa colossal de mapear o sistema imunológico humano, está o médico e cientista Hans Keirstead, especialista em células-tronco. Ele já atuou na criação de empresas de biotecnologia e já fez campanha política para ocupar um cargo no congresso dos EUA. Também foi professor da Universidade da Califórnia. Aqui, é diretor-executivo do projeto.
O Human Immune Project também conta com importantes parceiros, listados em sua página, como as farmacêuticas AstraZeneca, GSK, Janssen, Pfizer e Novavax. Além disso, são mencionados importantes institutos de pesquisas globais, como Universidade Vanderbilt, Universidade Livre de Bruxelas, Instituto Pasteur e Escola de Saúde Pública de Harvard. Todos em prol de um único objetivo: turbinar a saúde humana, através da compreensão do sistema imunológico.
Leia a matéria no Canaltech.
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